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Carrefour

Atualizado: 2 de fev. de 2021

Antecedendo em uma semana a "Black Friday", em pleno dia da consciência negra, a pergunta que ficou foi: Qual é a carne mais barata do Carrefour?

Logo Carrefour - Arte: Thales Malassise Luiz No dia da consciência negra, em que deveríamos levantar e refletir sobre nossos privilégios brancos com mais esforço, amanhecemos com uma terrível notícia: João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, foi brutalmente assasinado enquanto fazia compras em um supermercado da rede Carrefour em Porto Alegre.

As imagens são de embrulhar o estômago, e rapidamente o caso tomou conta dos principais noticiários.


É de conhecimento público que atos de racismo no Carrefour são reincidentes.

Com a proporção alcançada por esse caso surgiram comentários por todas as partes, de pessoas comuns a autoridades. A grande maioria reconhece cunho racial no crime, mas ainda há uma pequena parcela que insiste em negar, apesar da clara evidência.

Talvez o mais infeliz de todos tenha sido o do vice-presidente da república Hamilton Mourão, que cometeu a gafe de comparar a segregação racial do Estados Unidos com o racismo estrutural do Brasil. Já é de se esperar que, nas redes sociais, quase que a totalidade de comentários semelhantes são de apoiadores da chapa.


Historicamente há vários eventos que essas pessoas insistem em ignorar, propositalmente ou não, por pura ignorância ou uma real ingenuidade. A única certeza que temos é que não desenvolveram empatia nenhuma.

A escravidão teve início no Brasil no ano de 1050 e o tráfico de escravos foi "proibido" apenas em 1850. A Lei Áurea veio apenas 30 anos mais tarde, em 1888. Mas para se ter uma ideia do tamanho das dificuldades enfrentadas por esse povo, mesmo após o "fim" da escravidão, os negros tiveram o direto a votar apenas em 1934. Parece recente, não?

Ou seja, nos últimos 500 anos, enquanto a cultura branca se desenvolvia em todos os sentidos, sem interrupções, a população negra passou praticamente 80% do tempo privada de ter direitos básicos. Com esse resumo já da pra ter uma ideia da desigualdade descomunal em que as duas etnias se desenvolveram no Brasil, ainda mais levando em consideração o período em que os negros realmente "começaram" as suas vidas e as condições que tinham quando finalmente puderam realizar tal feito.

Talvez isso explique o fato de 78% da população de periferia ser negra e 72% dos que possuem maior poder aquisitivo serem brancos. Ou mera coincidência?


Levando tudo isso em conta fica claro qual parte da população tem acesso aos melhores privilégios em relação a direitos, e qual é a sua cor. Tais privilégios podem ser aqui citados como; bons estudos, bons advogados, promotores, juízes, políticos, etc. Coisas que demandam poder aquisitivo.

Assim sendo, hoje, aparentemente ficam determinados pela sua cor quais tipos de direitos você tem.

Dessa forma, fica evidente o motivo pelo qual a população negra vem sendo massacrada há anos, a certeza da ausência de punição.

Para desenhar melhor posso citar um exemplo simples:

Um policial tem mais medo de ser punido ao atirar em alguém em Heliópolis ou no Jardins?

Um segurança tem mais medo de ser punido ao agredir um jovem negro ou um jovem branco?

As pessoas que insistem em negar cunho racial no novo caso do Carrefour provavelmente acham que um crime é cometido por motivações raciais apenas quando acontece objetivamente, e ignoram o fato de existir um racismo estrutural enraizado, subjetivo.


Mas o mais irônico de tudo isso é que, na maioria das vezes, são as primeiras pessoas que aparecem para defender as vidraças de propriedade privada quando há revolta popular.

A princípio elas tentam encontrar diversas formas para justificar o injustificável, através de um malabarismo mental. Nesse caso específico, seria porque a vítima teria começado as agressões. E mesmo que ainda não seja claro o início da confusão, qualquer ser com o mínimo de faculdades mentais entende que os seguranças agiram com uso completamente excessivo de violência. Absolutamente nada justifica a morte do Beto. Mas o fato aqui ainda é que os seguranças jamais teriam utilizado dessa força se fosse um rapaz branco. O tratamento seria completamente diferente.


O Carrefour, por sua vez, se manifestou mais por medo das represálias. Tanto pelas manifestações digitais - que cancela uma empresa por dia - mas principalmente pela marola que ainda resta da onda #BlackLivesMatter ocasionada pela morte de George Floyd, em Minneapolis, no dia 25 de maio. Muito provavelmente a empresa está mais preocupada com o prejuízo que pode ser causado pelas depredações do que efetivamente com a morte do Beto.

Inclusive, o maior motivo pelo sucateamento dos serviços dessas grandes empresas se dá por ambição financeira e não pela entrega de um bom serviço ao consumidor final. Para se ter ideia, a empresa terceirizada para prestação de serviços de segurança tem "n" motivos para estar fechada ha muito tempo. E isso explica muita coisa!


Como já mencionado acima, casos de racismo no Carrefour são reincidentes, por descuidos da própria empresa, e, dessa vez, por vários motivos, talvez uma nota de repúdio no Twitter fosse ficar barato mesmo. Muitas pessoas, mas principalmente do movimento negro, se mobilizaram nas ruas de várias cidades do país em memória de João Alberto Silveira Freitas. Apesar dos negacionistas, racistas, defensores de vidraça do patrimônio alheio, toda manifestação popular dessa dimensão surte efeito. O opressor precisa se sentir acuado, tendo em vista que toda vez a resposta do povo não corresponde à altura da violência que sofre diariamente. Não há mais como continuarmos adestrados a aceitar tudo calados.


Os defensores de patrimônio alheio precisam começar a tratá-los da mesma forma que Bolsonaro tratou um dos acervos mais ricos de antropologia e história natural da América Latina; "Já pegou fogo, quer que eu faça o quê?".

Precisam analisar as situações além do conforto de seus privilégios. Talvez, assim, fique mais fácil defender uma vida do que o patrimônio de um bilionário.


Em memória de João Alberto Silveira Freitas.


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